segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Vai

Vai, tristeza!

Corre disparada
em sentido
contrário
ao meu sentir

Já me levaste
o sorriso
já me roubaste
o afago
e me atiraste
de abismos
jamais vistos

Mas, por favor
não me afanes
o dom
de seguir em frente
porque esse
coração valente
não aguenta
mais padecer

Vai-te daqui, solidão
que eu não quero mais
me esquecer
e nada quero saber
acerca de toda
essa gente
que um dia
me fez sofrer.

Vai-te sem mim.

Vai-te.

Rodrigo Alves de Macedo

terça-feira, 26 de maio de 2015

RESTO DE MIM

Outra vez sentindo a umidade fria da cidade. As ruas vazias de um dia de domingo expandem o eco gerado pelo meu espírito que vai se propagando de maneira inútil, porém necessária.
Mais a frente, já na avenida, observo algumas pessoas transitarem presas em seus ecossistemas rumo a algum destino e isso me faz lembrar que eu não sei a que lugar pertenço e nem para onde vou, ainda que continue seguindo e indo e indo...
Estou só. E acho que a cada dia me convenço mais que esse é o destino de todos nós. Não, essa não é nenhuma descoberta extraordinária, mas algo difícil de encarar de maneira natural e seca.
Paro, observo uma árvore desprovida de folhas e penso: "tão rápido passou o tempo?". O cair das folhas em certa época do ano é algo que sempre me chamou a atenção simplesmente por representar a mutação natural da vida e a necessidade de rotação de todas as coisas que a contém, o que comprova que tudo sempre volta a ser da mesma forma de antes e que o que realmente muda é a nossa maneira de ver e sentir tais feitios. Já cheguei a crer ter visto rosas mais vermelhas que as que eu vejo hoje em um mesmo jardim e me assusta reconhecer que, na verdade, esse tom sempre foi o mesmo. O que mudou? Somente eu posso responder.
Respiro fundo, reflito um pouco mais sobre as minhas prioridades enquanto a vida passa sem cessar, sem espera e sem cambio de ritmo, sinto uma vontade repentina de tomar um bom café e decido voltar para casa caminhando sobre essas folhas que um dia retornarão às árvores e que em outro tornarão a cair.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Eu não tenho o que escrever



Eu não tenho o que escrever,
eu não sei quem sou, não vou e nem volto.
Eu sou um fragmento de tristeza,
desses que vagam por aí à procura de uma felicidade que o neutralize.
O fim da tarde é o meu princípio,
é à noite que tudo começa,
é à noite que tudo me vem.

Sou um ponto de partida em um ponto de chegada,
eu sou algo que não sei dizer,
só sei que existo,
ainda que tão cheio de nada.

Vou sair pelas ruas em busca de mim,
vou sair fotografando tudo e todos
no intuito
de capturar
um momento
de alegria
que fique
para sempre
em minhas mãos.

Eu não tenho o que escrever,
eu só tenho o que sentir.
Sinto muito por não ter tanto de mim,
sinto por ter tanta angústia, tanto sofrer.

Vou sair fotografando,
vou encher a casa de retratos.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

O último ato



E tu choravas...

Choravas enquanto o meu rio de emoção desaguava naquele papel pela ponta da minha caneta
gritavas do lado de dentro implorando a resposta para tal solidão
e mesmo que eu te perdoasse não seria o mesmo que te acompanhara
faltara o manejo da boca, a suave mirada e o sossego do dia
faltara o afago do peito, aquela viagem da tal melodia
faltara os momentos de praia e os nossos deleites naquela água fria

Não sei se minha alma te readmitiria
mas seguramente não serias a mesma pessoa por quem eu senti amor um dia.

Peço licença aos meus sentimentos
pois me retiro desse completo turbilhão
vou divagar pelo tempo
e me trancafiar em mim mesmo

É inverno em mim.

- Rodrigo Alves de Macedo



sábado, 7 de junho de 2014

Samba meu



E assim, do nada, me veio a vontade de fazer um samba.

Me veio a vontade de pôr a saudade
na roda de samba pra ela rodar
De ver o teu corpo com o rebolado
Soltando gingado para a gente sambar

Meninos correndo de um lado a outro
empinando pipa, rodando pião
Enquanto eu, de longe
vou observando o povo sambando
e fazendo canção

Senti foi saudade dos finais de tarde
correndo no campo com os meus irmãos
Fazendo arruaça, cantando na praça
Um tempo arretado que não volta não

Fazer meninices, sair disparado
apostar corrida, gritar "campeão!"
Ficar sem camisa, de pés descalços
com os olhos no céu e minhas mãos no chão

Ler um bom contado
de banho tomado
No sofá deitado
cuscuz no fogão

E o samba termina
com muitos sorrisos
por eu ter vivido
esse sonho bonito

Uma simples infância, um tempo tão bom.


- Rodrigo Alves de Macedo





sexta-feira, 2 de maio de 2014

Meu azul particular




Mas eu te amo em cor
eu te gosto em tom de mar
quero logo me afogar
em tua onda infinita
para te fazer sorrir
e assim descolorir
as tristezas de uma vida

Eu não quero ser a chuva
dos teus olhos cor de céu
nem tampouco a tinta fresca
derramada no papel

Te prometo mil colores
em divinos tons de azul
para devolver-te a vida
e livrar-te do penar

Pintaremos várias rimas
minha vida colorida
meu pequeno azulejar.


sábado, 19 de abril de 2014

Algo em comum




A brisa que te toca a face
é a mesma que me envolve em solidão
é a própria que divaga em cada parte
desse pobre e singelo coração

Brisa infinita de um breve passado
de tempos moldados à nossa maneira
de olhares perdidos, de beijos achados
do nosso romance, nossa brincadeira
de quando eu achava que o nosso laço
seria o detalhe de uma vida inteira

E essa frívola brisa que hoje te abraça
é a mesma que revira minha dor na madrugada
é a própria que me traz os sorrisos e os afagos
que antes eram a mim direcionados
é o que me faz não conseguir te esquecer

Um sentir além do sentimento
é o que me resta dessa noite de alento

Perpetuo a vontade, o imenso desejo
e te vejo indo embora com a brisa que passa.



- Rodrigo Alves de Macedo